terça-feira, 28 de dezembro de 2010

a casa azul

O que faz especial A Casa Azul é que aqui nasceu, viveu e morreu Frida Kahlo. Entre estas paredes, a artista construiu o seu mundo, e aqui há o espírito criativo que anima sua obra.
Aqui não só se expõem os quadros de uma das pintores latino-americanas mais reconhecidas, mas também se descobre a parte cotidiana e quase anônima de uma mulher, de uma família, de um casamento e dos amigos que rodearam a jovem Kahlo-Rivera.

Casa Azul é acima de tudo: uma casa, um espaço onde os objetos falam e convidam pra uma visita íntima.


A Casa Azul

Na Casa Azul estão os quadros que fizeram famosa a artista: Viva la Vida, Frida y la cesárea, - mas também está sua cama ladeada pelos retratos Lenin, Stalin, Mao Tse Tung – como o cavalete que lhe foi dado por Nelson Rockfeller. Estão os espelhos – pequenos, de corpo inteiro e o de cima de sua cama – aqueles que se observava cuidadosamente, e estão seus pincéis, aqueles com que se reinventava. Está sua coleção de borboletas – que a descobre como uma amante da natureza – e sua coleção de vestidos – que a revela uma mulher de determinadas vaidades.

Exterior da Casa Azul

Nesta casa cheia de contrastes, convivem sem prejuízos os dolorosos espartilhos – uns de gesso decorados, outros de couro e metal – Cada objeto fala e muito – como brinquedos, artesanato, utensílios de cozinha, jóias – foram tanto uma parte do mundo de Frida que estão incluídas em suas telas.

Um tour por coisas e quadros que também falam das origens de Frida. A Casa Azul foi propriedade da família Kahlo desde 1904, três anos antes de nascer a pintora. O pai, Guillermo, era fotógrafo. No quadro Retrato de Família, Frida apresenta uma curiosa árvore genealógica onde se mesclam o sangue húngaro do Pai e a oaxaca¹ da mãe.


No início, a casa era branca, mas Diego e Frida a pintaram de azul, como uma homenagem às cores vivas da tradição mexicana. A construção já tem esta cor no quadro de 1936, Mis abuelos, mis padres y yo.

O retrato de Augustin M. Olmedo, na sala 1, é uma testemunha silenciosa da forte personalidade de Frida. A tela mostra um rasgo feito pela artista quando soube pelo homem que o retrato “não valia nem um centavo”.

Temperamental e direta, Frida construiu um caráter à prova de uma deficiência provocada por uma poliomielite infantil e, mais tarde, aos 18 anos, pelo acidente que mudaria a sua vida. Em 17 de Setembo de 1925, o ônibus em que Frida viajava, é atropelado por um Bonde.

Uma barra lhe atravessa na altura da pélvis, causando sérias fraturas na espinha dorsal. Imóvel por um tempo, Frida começa a pintar.

Apesar da má saúde, a pintora tinha um natural senso de humor quase sarcástico. Ruina, na sala 2, foi um presente que a artista fez pra Rivera, em 1947, como uma censura às infidelidades do muralista. Os relógios também são eloqüentes. Em um Frida marca a data – 1939 – na qual se divorcia de Diego. No outro, um ano depois, escreve a hora e dia de seu segundo casamento com Rivera.

Ruina

Na Casa Azul, viveu também, uma artista politicamente comprometida: "Frida e Stalin e o marxismo dará saúde aos enfermos" deixam ver uma pintora contrária ao imperialismo norte-americano, voltada a grupos de esquerda aos quais, Diego dedicou parte de seus lucros.

A cozinha é um dos aspectos que mais fala do cotidiano da artista. Na Casa Azul, se faziam festa e se recebiam os amigos – cujos trabalhos e nomes adornam as paredes. O tamanho dos "comedores" e dos terraços no jardim, falam de uma casa aberta as visitas. Contudo esta foi uma construção viva, que foi se modificando de acordo com as necessidades e altos e baixos do casamento. Diego mandou ampliar a casa em 1937, quando decidiram dar asilo a Trotsky e sua mulher. Da mesma forma em 1947, Diego construiu um estúdio para Frida. Também depois do divórcio, se desenvolveram dois quartos separados, que Frida e Diego ocuparam até a morte da pintora.


Cozinha

A Frida amante de Diego e dos gostos de Diego respira por todo o lugar. Nos jardins onde caminharam macacos e papagaios, atestam a fascinação do casamento pela arte pré-hispânica.

Aqui se mostra uma pequena parte da coleção que Diego foi adquirindo ao longo de 30 anos – 54 mil peças - e que é admirado em todo o seu esplendor no Museu Diego Rivera-Anahuacalli.

O diário de Frida

Tanto em sua obra – influenciada pela estética visual dos retábulos religiosos – na sua vida cotidiana e mesmo a sua língua – irreverente e desenrolado- , Frida lutou pra demonstrar que nas raízes populares se encontrava a identidade nacional.

A Casa Azul é também uma homenagem tanto para artistas do século XX - Clausell, Orozco, Tanguy, Velasco – como para a arte popular. As esculturas em madeira de Mardonio Magaña, artista descoberto por Diego Rivera; a sala do ex-votos, uma das coleções mais interessantes a respeito, e os trabalhos de papelão de Carmen Caballero, a "judera" de cabeceira do matrimônio são exemplo vivo disto.

Entre arte e artistas, também conviveu uma Frida prática, uma dona de casa que fazia economias em casa e registrava o saldo de ganhos: assim demonstra o livro de contabilidade que se encontra no estúdio.

A Frida de carne e osso morre em 1954. E foi cremada, conforme seu desejo. Diego guardou as cinzas numa urna pré-colombiana, pedindo expressamente que, quando morresse, fosse também cremado e que as cinzas fossem colocadas junto às de Frida. No entanto, por ocasião de sua morte, a mulher atual e as filhas desrespeitaram sua última vontade, expressa inclusive em testamento. Acreditaram que seria melhor para o país se ele fosse enterrado na "Rotonda de hombre famosos", na cidade do México.

Em 1958, a Casa Azul se abre ao público. Desde então, recebe por ano mais de 200 mil pessoas que buscam a bandeira da feminista Frida, a Frida objeto de culto, a Frida mito, alimentado inclusive por ela mesma.

E, quem sabe, cada visitantes que passeia pelos espaços que Frida amou habite já, de maneira própria, esta casa e seus objetos.

retirado de frida kahlo cores, de Meg Rufino, um blog com um bom material sobre a Frida

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